Eu cismo, mas assimilo
que o abismo que crio é cíclico,
caio tanto quanto clico.
Porquanto me abala, sísmico;
porquanto me embala, cínico;
porquanto me mata, míssil.
Me assumo, só, depois sumo,
seminu numa piscina
de pássaros semissoltos.
A morte, esta me encima,
mas de si não me enciuma,
não me tem de forma alguma.
Assim vivo
entre rifles e dribles
patifes e grifes
não tão livre
nem tão leve
solto tampouco
Sempre sempre
entrementes
preso ao livro
Breve e louco
pouco vivo
escrevo
todo o resto
que morro
foi-se
a hora do medo
e deu-se
vitória ao algoz
uma vez
(mas passou)
hora do riso
amarelo o riso
falsa coragem
uma âncora
no bico da ave
(sim)
levantar a voz
fazer fé e figa
passo de formiga
e de verdade:
acreditar
cachorro não sou
mas gosto da lua
e tenho fraquezas por gatos esguios
não ladro nem mordo
mas tenho na língua o gosto do cio
às vezes me sinto
um lobo vadio e sem território
lambendo feridas
entregue ao fastio e com medo da língua
às vezes me pego
com tanta coragem que o rabo persigo
com tanta coragem
que mordo a mim mesmo sem sombra de aviso
* Doublet é um jogo de palavras em que, a partir de uma palavra, trocando-se uma letra por vez, chega-se a outra. Um dos desafios do jogo é que sejam construídos sentidos a partir das alterações graduais. Outro desafio é o alcance do termo-objetivo em poucos passos.